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segunda-feira, 31 de março de 2014

50 anos do Golpe Militar de 1964 - I

Acabo de entrar no site que convoca as pessoas para a Marcha da Família com Deus e o “Diabo na Terra do Sol” para o dia 22 de Março agora. Invocando a marcha mais famosa, aquela que contava com a organização do IPES e IBAD, realizada em março de 1964 e que levou 200 mil pessoas para as ruas. Falava-se naquela época em 500 mil. Alguns otimistas em 1 milhão. A v...erdade é que os números inflacionados da época já correspondiam a uma contrapropaganda que preparava o golpe, portanto impossível de se saber. Mas o número de 200 mil, para cronistas que acompanharam in-loco é bastante plausível. Bem da verdade é que a marcha démodé, convocada por um cidadão que desconheço, mas que aparece direto na televisão e em sites, não conta com mais de 1.200 adesões. Qualquer “rolezinho” no Shopping vai mais pessoas.
Oportuno lembrar que os 50 anos do golpe desperta uma série de interrogações que vão desde a quantidade de mortos pela ditadura (“oficialmente” se fala em 400 e poucos), até a sua herança bendita ou maldita que resvala diretamente na sociedade que temos hoje. Incentiva oportunista como o acima citado e outros que se resignam diante do passado.
Quando se começa a falar sobre o Golpe Militar é condição importante saber da onde o pseudo-intelectual escreve, pois isto vai determinar o seu olhar sobre um fenômeno da história tão estudado por todos. Este que vos escreve, é um ex-pesquisador da ditadura que “levantou” a vida de um general do exército “fác-tótum” (faz-tudo) do General-ditador de turno Artur da Costa e Silva. Não será sobre ele que escreverei nos próximos textos, mas foi a partir dessa experiência que pude ler muitas coisas sobre a Ditadura, o Golpe, a Conspiração, o AI-5, etc. A ponto de virar um longo objeto de estudo, concluído em 2008.
Desde 1994, se rememora o Golpe Militar, dando voz a facetas que até então eram obscurecidas. Os personagens vão mudando. Por exemplo, em 1994 em um evento de rememoração realizado na Unicamp, algumas mesas eram compostas por Octávio Ianni, Jacob Gorender, Nelson Werneck Sodré, Florestan Fernandes e Ênio Silveira. Em 2004, pude assistir uma mesa com Francisco de Oliveira, além de conversar com Apolônio de Carvalho. Nessa mesma época conheci Maria Amélia Teles em um evento do Desarquivando Brasil.
Em 2014, para além do que ocorre nas universidades que eventualmente trazem uma carga mais profunda de pesquisa e, por isso mesmo, ampla e diversa, ouvimos bobagens como “a ditadura no Brasil foi branda”, “evitou-se uma ditadura comunista”, “não houve ditadura”, etc. Bobagens, pois não as respeito quando são proferidas. E devem assim ser rebatidas.
No momento em que perdemos valorosos intelectuais, passamos a considerar Lobão como um entendido no assunto; no momento em que algumas pessoas que lutaram contra a ditadura fazem o movimento de se silenciar, se dobrando a uma tentação conservadora e conciliadora, ficamos perdidos, sem referências no assunto; enfim, o objeto se torna cada vez mais opaco e distante, fermentando análises “novas”, mas que possuem receitas antigas.
É importante enfrentar as meias verdades que se criam em torno do Golpe Militar. Sendo verdadeiro que o quanto mais nos distanciamos do fato, mais inferências podemos fazer dele, portanto, explorar outras possibilidades e matizar algumas verdades, é também correto que não se pode permitir que essa assertiva da História sirva para relativismos ou anacronismos que “criam” novas verdades hegemônicas. E para começar, houve sim um Golpe, foi sim militar, mas não apenas e, foi sim uma ditadura.

Publicada em 19/03/2014

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